Categoria: Rivista Online - Edizione - Agosto 2015

As políticas públicas no setor de energia estão norteadas para o curto prazo e, até o momento, não houve uma discussão para a adoção de estratégias voltadas ao longo prazo. Essa foi uma das conclusões do painel “Alimento e Energia”, do 14º Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, nesta segunda-feira (3/8), em São Paulo. 
 
 “Seja na área de etanol ou no segmento de petróleo e gás, o período de cinco anos é o amanhã. Assim, se queremos de fato ter uma política saudável no setor energético, precisamos discutir os próximos vinte anos”, disse Luís Roberto Pogetti, presidente do Conselho Deliberativo da UNICA. “Podemos discutir uma transição, que pode durar cinco anos, e depois falamos dos objetivos para os próximos anos e qual o papel de cada um dos segmentos envolvidos”, acrescentou. 
 
A falta de planejamento de longo prazo também implica em outros problemas, segundo Adriano Pires, diretor fundador do CBIE – Centro Brasileiro de Infraestrutura, como a inibição do empreendedorismo e dos investimentos em inovação tecnológica. “Dois são pontos são essenciais para garantir a inovação: estabilidade regulatória e segurança jurídica”, afirmou. 
 
Além dessa questão, Pires ainda ressalta a importância de se discutir uma política pública descentralizada para o setor, ou seja, olhar para projetos de pequeno e médio portes e não apenas de grandes obras. “O Brasil tem uma situação privilegiada porque temos recursos naturais que possibilitam ter uma diversidade energética muito grande”, explicou. O Brasil tem a possibilidade de gerar energia solar, elétrica, eólica, de biomassa, de carvão vegetal, entre outras.
 
Alimento e energia
 
Todos os participantes do painel, incluindo Eduardo Bastos, diretor de Relações Institucionais da Dow Brasil, foram unânimes ao afirmar que não existe uma concorrência entre a produção de alimentos e de energia. Fernando Figueiredo, presidente-executivo da Abiquim, avalia que a dicotomia entre a produção de alimento e energia não parece ser muito relevante. “A energia tem muitas fontes. E com isso, há muitas oportunidades de produção. As políticas públicas têm afetado esse mercado”. 
 
No entanto, o aumento de preço da energia pode tirar a competitividade da indústria nacional de alimentos. “Quanto mais cara a energia, mais custo para a produção do alimento e esse custo é repassado para o consumidor final”, analisou Almir Dalpasquale, presidente da Aprosoja Brasil. 
 
Segundo Adriano Pires, do CBIE, a energia nos outros países está voltado para alavancar o crescimento do país e aplacar a inflação. Mas, no Brasil, tem ocorrido o oposto e a energia vem sendo um fator que tem tirado a competitividade da indústria. 
 
Para o setor sucroalcooleiro, a equação é um pouco diferente, de acordo com Luis Roberto Pogetti, da UNICA, uma vez que as usinas são autossuficientes em produção de energia. “Nesse sentido, falta uma visão de política pública porque elas poderiam produzir muito mais. As palhas e folhas, cujo desperdício chega a 90%, poderiam estar produzindo mais energia, e muito mais barata do que o consumidor está pagando hoje”.
 
Grãos, proteína animal, floresta plantada e palma
 
Agregar valor é o grande desafio do produtor brasileiro de proteína animal, em especial aves e suínos. O objetivo é transformar os grãos, que hoje representam cerca de US$ 432 por tonelada exportada, na exportação de frango inteiro, que elevaria para US$ 1.790 por tonelada exportada. A informação é do ex-ministro da Agricultura, Francisco Turra durante palestra no painel “Grãos, Proteína Animal, Floresta Plantada e Palma”, do 14º Congresso Brasileiro do Agronegócio da Abag.
 
O ex-ministro salientou a importância do setor de aves e suíno ao lembrar que, das 25 cidades com o melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, a metade é de municípios onde a avicultura ou suinocultura predomina. “Hoje, exportamos aves para 157 países e o setor responde pela geração de 4,1 milhões de empregos diretos”, relatou o ex-ministro. Para ele, um fator é vital para o país ter alcançado esse patamar de importância no mercado de proteína animal. “Nossa rigorosa sanidade animal é o nosso melhor passaporte para nossas exportações”, finaliza.
 
Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores reforçou o posicionamento do Brasil como país com maior área de floresta plantada no mundo, com 7,7 milhões de hectares, que absorvem por ano cerca de 1,3 bilhão de toneladas de carbono da atmosfera. “Em um ano, essa floresta plantada é capaz de mitigar três anos de emissão de gás carbônico pela indústria”, conta. Fora isso, a indústria de celulose segue crescendo, exportando cerca de 92% de sua produção de aproximadamente 15 milhões de toneladas por ano. “O Brasil é tão proeminente nessa área, que a cada segundo ano, lançamentos uma nova fabricada e colocamos no mercado mundial 2 milhões de tonelada de celulose”, acrescenta. Essa indústria investe fortemente em inovação, em especial, na área de nanotecnologia porque quanto mais se pesquisar as fibras das árvores, mais novos produtos serão achados. Atualmente, são cerca de 5 mil produtos derivados da floresta plantada.
 
Nos últimos 10 anos, o Brasil mais do que dobrou a produção de soja e milho, por meio da otimização de recursos naturais e do maior uso de tecnologia e inovação, tornando-se um dos maiores produtores mundiais de grãos. Segundo dados do Conab, entre 2004/2005, por exemplo, a produção de grãos foi de 2.949 kg/ha e a previsão de 2014/2015 é de 4.858 kg/ha. Para Valmor Schaffer, presidente da ADM na América do Sul, além do milho e da soja, outro grão importante é a palma, cuja área plantada no mundo é de apenas 6%, mas que responde por 30% do consumo de óleos e gorduras, conforme dados da Oil World. Como vantagem, o executivo cita o alto rendimento de óleo por hectare que contribui para um uso mais eficiente da área disponível destinada a agricultura.
 
No mesmo painel, Pedro Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSMIA/ABIMAQ), ressaltou a importância de maximizar o uso das tecnologias já existentes em todo o território nacional. “Para isso, é necessário qualificar a mão de obra, desde o operador até o gestor e a indústria precisa fazer investimentos em treinar multiplicadores de conhecimento”, disse. “Além disso, o pequeno produtor deve acessar não apenas tecnologias de mecanização, mas também de automação”, acrescenta. Outros pontos levantados por ele foram o estímulo a reposição de máquinas agrícolas modernas, por meio da continuidade das políticas públicas implantada, e a melhoria da competitividade da indústria, por meio da diminuição de gargalos tecnológicos, e da diminuição do Custo Brasil.
 
Para o diretor geral da Agroícone, Rodrigo Lima, as pastagens têm grande chance de ser o principal segmento a ter aprimoramentos significativos em função da busca por melhores práticas ambientais. “A regularização ambiental embutida no Código Florestal é uma oportunidade concreta para agregar práticas sustentáveis e aumento da produção. Entendemos que o Código Florestal funciona como um grande atributo da sustentabilidade que o agronegócio brasileiro pode exibir no exterior”, resumiu.
 

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