Categoria: Rivista Online - Edizione - Maggio 2015

O grande economista John M. Keynes disse na primeira metade do século XX que no longo prazo todos estaríamos mortos! Sem nos preocuparmos em conhecer as circunstâncias e o sentido que Keynes tinha em mente, tal frase serve como mote para repensarmos como se dá a nossa relação com o tempo.

A primeira observação consiste em trocar o ponto de exclamação pelo ponto de interrogação. Ao problematizar o que disse Keynes nos situamos melhor em nosso tempo, um admirável (?) mundo novo, em que as dúvidas e as incertezas contam mais que as verdades, que não faz muito tempo eram seguras. Assim, com tantas alterações climáticas, desastres ambientais, corriqueiras crises econômicas, renitentes guerras, epidemias etc podemos começar nos perguntando se haverá longo prazo?

Outra observação diz respeito ao perfil imediatista da vida contemporânea. Os homens e mulheres deste século querem tudo para já, agora. O lado mais visível disso pode ser visto nas maravilhas tecnológicas que nos surpreendem em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Sucessivas engenhocas que facilitam a nova vida vão dando a sensação de que décadas se consomem como se fossem meses, basta ver por exemplo as inovações nas comunicações: telefone, bip, celular, e-mail, messenger whatsapps etc. novidades que surgem e não raro desaparecem freneticamente. No campo dos negócios, os investimentos são bons quando proporcionam lucros altos e em intervalos de tempos menores possíveis. A ânsia por lucros rápidos move o capitalismo das indústrias para o capitalismo dos bancos, boutiques financeiras e especuladores. Produção perde espaço para especulação.

Mas, essa verdadeira “destruição criadora”, para usar a expressão de outro grande pensador (Joseph A. Schumpeter) não se restringe à economia. Esperar torna-se um verbo pouco flexionado nas relações as pessoas, seja na economia, na família, no trabalho, na natureza, no trânsito... No mundo das comunicações velozes, a internet não passa de um nome plástico para o instantâneo. As amizades dispensam o face to face, aparentemente podem ser construídas em clicks no computador. Desnecessário lembrar que, no campo social e jurídico, esse processo incrementou o esfacelamento de institutos tradicionais que pressupõem a maturação para o seu sucesso, tal como o casamento.

A intolerância à espera não permite reconhecer o valor do tempo. Tal como a natureza, a vida precisa de tempo para mudar e permitir adaptação ao novo. Talvez haja uma raiz comum na degradação ambiental, na crise econômica e no desgaste ético: essa raiz é ou pode ser o imediatismo. O curto-prazismo ironicamente poderá o dito keynesiano: no longo prazo realmente estaremos todos mortos.

 Eduardo Souza. Juiz Federal

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